quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Re-

Me joguem ao vento
Sou folha que caiu no outono
Entre outras folhas caídas
Fora do tempo

A flutuar
Até a chuva a passar
Metamorfosear e crescer
E em novo dia florescer



Respingos

Cai um pingo
Dois pingos
Vários pingos
Respinga em mim

Respinga o sangue
Respinga a lágrima
Respinga a chuva

O corpo estranho
Aos poucos afunda
E no fundo descansa
E nada e nada

Se fossem cinzas
Jogadas no rio
Pelas marés
Misturada à lama
Não o encontrariam
Não me encontrariam
E seu repouso seria em águas







segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Versos em Papel Higiênico Usado

A primeira vez que te vi
Tive vontade de vomitar
Mas quando me apaixonei por ti
Engoli meu próprio vômito
Você achou nojento
E se separou de mim
Casou com outro
Um tarado
Que mijava em você
E também batia
Só gozava com parafilia
Até que você enjoou
E se separou dele
E voltou pra mim
Mesmo mijada ainda te quis
Pois eu te amava
E em ti também mijava
Pra te ver feliz

Tatuagem de Henna

Pra provar teu amor,
o meu nome tatuou
em teu peito.

Mas que pena!
Até o teu amor
era de henna.

O Grande Amor de Hoje

Qual o nome do meu amor?
Eu não sei!
Transei com ele ontem à noite,
nem perguntei.
Nem sequer falei!
Apenas gemi
e uns palavrões, talvez.
Se ele me disse,
esqueci!
Apenas fodi.

sábado, 24 de novembro de 2012

Verso Livre

Eu perdi a razão
Em algum lugar daquela rua
E cadê a disposição pra procurar?

Se der na telha
Eu tiro a roupa e corro nua
Bato na cara de quem tentar me censurar

Se eu quiser
Eu corro nua até na lua
E não caberá a ninguém me julgar

Que a minha vida é verso livre
E só cabe a mim rimar



sexta-feira, 23 de novembro de 2012

A Faca na Mesa

Em cima da mesa
Uma faca
Recém-usada
Carne cortada

No chão frio
Corpo frio
Antes o calor
Antes o amor

No chão a dor
Ensanguentada
Tapete amarrotado
Móveis deslocados

O fio da faca
A vida por um fio
Que a Moira corta
O corte frio

Atrás da orelha
A dúvida coça
Engula tudo
Oculte o corpo

Ato vil
O corte frio
Ninguém viu
No chão frio
De repente
O corpo frio
Insana mente





Meu Sonho

Era um sonho
O despertador me disse
O travesseiro também

Caí da cama
A dor é real
Outrora cairia em teus braços
Ou nem me deixarias cair

A noite é meu refúgio
Ninguém me vê nesse escuro
Vultos me perseguem durante o dia
E eu fujo da luz
Tu eras minha luz
Agora só quero dormir


quarta-feira, 21 de novembro de 2012

A Cadeira Quebrada

Sobre aquela nuvem
Em forma de coração
Havia uma cadeira quebrada

Era cadeira de balanço
Que não balançava
E que embalava o ex-amor

Sobre a cadeira quebrada
O céu era azul
A noite estrelada
E os pássaros voavam
Além da estratosfera
E nos galhos pousavam
À espera

Felizes cantavam
Os beijos embalavam
Mas quando a cadeira quebrou
Partiram para o sul

Sobre aquela nuvem
Em forma de nada
Havia uma cadeira quebrada
Que partiu para o sul


terça-feira, 20 de novembro de 2012

Lâmpada Acesa

Apago a luz.
Não transava com luz acesa.
Seu sexo era tato
e imaginativo.
Quase nem gemia,
mas eu sentia,
na pele,
gritos de tesão
suados.
Selvagens
no cio.
Um bebendo na taça
do outro
na quarta casa
do zodíaco.

Ó, minha puta de virgem!
Apague a luz e vamos dormir!





Reticências

Tarde quente
Você frio
Fiz um café pra nós dois
Açúcar ou adoçante?
Você amargo

Ligo a TV
Você desligado
Eu pergunto
O que houve?
Você não diz nada
Me sobram as reticências
...


domingo, 18 de novembro de 2012

Em Cena

A luz refletida
Em nossos olhos distorcida
E não somos capazes de ver
E apenas supomos

Nos bastidores está a verdade
Como segredo ainda não revelado
E no palco a realidade é em drama
Então merda pra todos nós


sábado, 17 de novembro de 2012

Passional

O veneno que injetei em tuas veias
Escorre como lágrima em minha face
É reação que em mim desencadeia
Como se um mero sofrimento a mim bastasse

O arrependimento é um antídoto sem efeito
Eu carrego tua agonia em meus braços
Com um tumor maligno em meu peito
Meu coração agora bate em descompasso

O tempo passa e o meu corpo irá murchar
Tal qual flor abandonada no canteiro
Sem a alegria do teu beijo a regar
Sou como os restos de um cigarro no cinzeiro


sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Interlúdio

Se tudo que começa acaba
Se todo começo aponta para o fim
Que entre o lá e o cá
Eu ria mais do que chore
E se for para chorar
Que seja por cortar cebolas


quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Balé Mortal

Passos miúdos
na corda bamba
A morte de um lado
e do outro também

São fios invisíveis
que seguram o meu corpo
meio morto e sem direção

Sobre o penhasco
eu caminho o risco
Desequilibrando
em balé mortal

Cada movimento
um simples rabisco
Compondo com queda
a arte final


No Bar da Esquina

Fui ao bar da esquina
decidido a me embriagar.
Bati com força no balcão,
gritando um ou outro palavrão
"Garçom, desce uma aqui!"

Me trouxe um copo vazio
e quis conhecer minha desilusão.
"Vá cuidar da tua vida, caralho!"

Se recusou a me servir.
Joguei o copo no chão.
"Então vou quebrar tudo aqui!"

Com o caco de vidro na mão,
avancei pra cima do garçom.
Revirei mesas e cadeiras.
"Vou te ensinar uma lição, seu filho da puta!

Ouvi alguém gritar:
"A polícia chegou!"
Vieram pra cima de mim,
mas eu consegui me esquivar

"Parado aí!"
Se alguém disse, eu não ouvi
Só ouvi o disparo que me acertou
"Eu só queria encher a cara, porra!"


quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Necrópsia

No toque da pele pálida
Fria e morta
Eu frio
Com a lâmina na mão

Vou invertendo
A ordem dos fatores
Dilacerando os fios condutores
Cuspindo pra fora o teu Eu
Em sangue negro


Fragmentos

Pelos

cômodos

da casa

Há pedaços

de ti

E

sobras

...de mim


(Imagem de divulgação do filme "Perfume: The Story Of A Murderer",2006)

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Vazante

Eu abri a porta
E o deixei entrar
E o vazio de antes
Como maré vazante
Vazou

O rio de lágrimas
Onde eu costumava nadar
Em maré baixa e águas salgadas
Secou no encontro com o mar


(Ins)pirações

De onde vem
o Big Bang?
Vem de algo
ou de alguém?
Que inspira
e expira o que vem?
Se de mim
ou de outrem?

É geração espontânea?
É do nada que vem?
É de gênese instantânea
que vai e que vem?
Que se tem
e não se tem?


segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Naftalina

Na minha gaveta guardei
As palavras que não fui capaz de dizer
Escondia-as debaixo das roupas
Em companhia das naftalinas

O papel irá envelhecer lá
E eu irei morrer cá
Desaparecer
Como as naftalinas


O Copo de Vidro

O copo de vidro
Nas minhas mãos
Caiu e quebrou

Pra me redimir
Peguei os estilhaços
E os engoli
Com um pouco de água
Pra ajudar

A cada gole
O incômodo interno
Refletida nas minhas feições
A dor


domingo, 11 de novembro de 2012

Cabelos Negros ao Vento

Os cabelos negros soltos
Sobre os ombros revoltos
Conduzidos pela brisa
Paralisam em contemplação

Como fios com seda envoltos
Sem artifícios coloridos
Tingidos com pincel divino
Como a negrura da noite estrelada


O Homem na Caixa

As paredes de papel
Na caixa fechada
Embaixo da cama
A caixa esquecida

Dentro dela
Um homem
Isolado
Em quatro lados

Não há portas
Nem janelas trancadas
As amarras são invisíveis
As grades intangíveis

Não era a caixa que estava fechada
Era o homem na caixa
Esquecido



(Imagem da tela "Head IV" de Francis Bacon)


sábado, 10 de novembro de 2012

A Primeira Vez Que Vi Tua Bunda

A primeira vez que vi tua bunda
Não há amnésia que me faça esquecer
O quão era profunda
A vontade oriunda do meu íntimo ser

E se era grande e de tão grande que abunda
De uma circunferência que inunda
Vejo que vaga
Que vaga a bunda


Dar e Receber

Ela dava pra mim
E como dava bem
Com a mesma disposição
Dava pra outros também

Em qualquer que fosse a posição
Pra dar
Não dizia não
Era só abrir a mão

Descolorir

Eu gozei teu olhar
E num piscar me entreguei
E nas ondas do teu mar mergulhei

Sem saber nadar
Eu pulei
Esperando você me guardar
Onde te guardei

O que pra mim era azul
Pra você era incolor
Eu pintei um amor
Que você não rabiscou

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Amor Urgente

O meu amor é urgente
Não se contenta com o depois
Só vale o agora, o tempo presente
Talvez lá na frente não haja nós dois

sábado, 3 de novembro de 2012

Desvirginal

Rua escura
Carcaça nua
Em decomposição

A carne crua
Devorada pelos vermes
Que outrora inertes
Esperavam sua hora

Objeto de luxúria
Agora em desuso
Em prazo de validade atingido

Rótulo tingido com o sangue
Nos cortes como xilogravuras dérmicas
Que selam o rito de passagem


Eu e o Caos

Minha mente
Um caos
As ideias desconexas
Se chocam
Provocam explosões
Que ganham proporções
E ecoam
Vagueiam no universo
Quase insano e perverso
De um Eu
Que não é meu
Mas me compõe


quinta-feira, 1 de novembro de 2012

1º de Novembro

Novembro chegou
A dor continua
A dor de um outubro alheio
Que não veio
Mas foi

Foram lembranças
Que tentei esquecer em algum canto
E no mar de pranto afogar

Risquei outubro com caneta vermelha
Pintura abstrata no calendário
Já que tudo é relativo
Que o tempo passe rápido
E todos os santos digam AMÉM!